quinta-feira, maio 12, 2005

Desatinos de uma insónia...

Estou cansada…

Estou cansada desta insónia que insiste em manter o meu cérebro a funcionar, a pensar, a imaginar, a constatar. O que fazer, a quem ligar, quem tocar, amanhã…?

Quero mudar, estou farta de mim, do buraquinho da minha barriga, das pintinhas na minha cara, das cortinas do meu quarto, da TV que não dá nada de jeito, e da minha insistência em mantê-la ligada…

Quero fugir daqui antes que me desfaça em um milhão de pedacinhos e depois não os voltem a colar no mesmo sítio. Sinto cada vez mais que sou parte do estuque, da tinta, da madeira desta casa. Cada canto conhece-me melhor do que quem me viu crescer, estou cansada…

Dói-me a garganta, porque o coração já não sente… começo a pensar que terei algum tipo de anomalia física e o meu coração está no sítio das minhas amígdalas, sinto o pescoço a bombear!

Até os pássaros insistem em não me descansar, 3,37 da manhã e todos animados cantam, porque? Por que raio estão os pássaros a cantar, o que haverá de tão animador lá fora a esta hora?

Mudando de assunto (João Pestana porque não chegas?), tenho saudades, mas não sei bem de quê ou de quem…

Tenho saudades de amizades da adolescência com quem tive aventuras fantásticas, 1ºs amores, 1ªs facadas, 1ºs desesperos, 1ºs cúmplices de escapadelas nas férias, sei lá, tenho saudades de quem eu era e vocês eram.
Já pensei em ligar um milhão de vezes, mas será que se lembram de mim, do livro de aventuras que iríamos escrever, como quando “fugimos” da escola para irmos até minha casa buscar não sei o que, como pretexto para mais uma aventura e todas as peripécias que aconteceram, de irmos para a urbanização em construção andar de patins e das figuras ridículas que fazíamos.

Tenho saudades dos 4, os 4 dos encontros, das idas ao cinema á tarde, das escapadelas para casa de um de nós, de me aparecerem em casa de manhãzinha, só porque á tarde tínhamos coisas para fazer… Das cartas que escrevíamos, dos e-mail, mesmo estando juntos quase todos os dias!

Tenho saudades de esperarem por mim ás 6 da tarde e ficarmos no pátio na conversa e virmos todos a pé para casa.

Tenho desejos das cestas de fruta que não dispensávamos depois de uma aula de aeróbia, quando vínhamos a pé para casa no verão, com o vento a atirar-nos os cabelos para cima do chantilly…

Tanta coisa já se passou, parece que este últimos anos sem vocês não passaram de um grande sono, com bons sonhos e muitos pesadelos e que agora começo a despertar. Por isso os pássaros cantam, para eu acordar, e olhar para a minha agenda, onde tenho os vossos nº de telefone e moradas, e marcar a carta a ser enviada, amanha e não me posso esquecer!!!

Olá!

Como estás, o que tens feito?

Será muito tarde?

Tenho saudades de ser feliz apenas com a possibilidade de concretizar um sonho, de o imaginar, de o afirmar e de não o chorar, o sofrer, o lamentar!

O relógio insiste, 4 horas, ainda sem sono, e com cada vez mais dores de garganta…Agora ladram os cães… Estranha natureza, estranho este meu eu, tive um dia cheio, exames, conversas, aprovações, aflições…estou cansada, mas não durmo!

Hoje será um novo dia, mais um para enfrentar, esperando não o fazer sozinha…

Queria escrever algo poético, interessante, para fingir que eu também o era, mas a minha mácara começa a escorregar...

Boa noite!

Sem comentários: